Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi
Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi, ou simplesmente Sandro Botticelli (ou, Sandro "Barrilzinho") foi um dos maiores gênios do Renascimento e um dos meus gênios preferidos!
O pintor fiorentino foi aprendiz de outro dos meus favoritos, o maravilhoso Filippo Lippi. A segurança e soberania do jovem artista estavam evidentes desde suas primeira obras, como no caso de "Adoração dos Reis Magos", quadro encomendado pelo novo rico florentino Guasparre del Lama.
O primeiro nome de del Lama (Gaspar) determinou o tema da pintura - o 1º dos 3 reis magos era seu padroeiro de nome. Botticelli inclui ainda no quadro, o seu auto-retrato e os membros mais importantes da família Medici.
O artista é muito conhecido pela sua sequência de pinturas com tema mitológico como o "Nascimento da Vênus", provavelmente criado para os Medici. Uma de suas pinturas mais famosas e enigmáticas é a "Primavera", cujos significados não foram totalmente explicados até hoje.
A obra estava destinada a Lorenzo di Pierfrancesco, primo de Lorenzo, il Magnifico. De acordo com um inventário de 1492, a pintura estava pendurada no palácio de Lorenzo, ao lado de outro quadro de Botticelli, "Camila e o Centauro".
O conjunto das duas pinturas seria a representação do ideal sublime de amor. Camila seria identificada como Minerva, a deusa da Sabedoria. Camila também é a heroína amazônica da Eneida de Virgílio e apresentada como um modelo de castidade e modéstia.
Já os centauros, os animais fabulosos metade homem e metade cavalo, são geralmente considerados o símbolo da luxúria. No quadro, Camila o agarra pelos cabelos, impedindo suas intenções de sair à caça. Desta forma, a obra poderia ser interpretada como a vitória da castidade sobre a luxúria.
Na Primavera é representado um lindo jardim florido, com Vênus e Cupido ao centro, Zéfiro, o vento, que surge do lado direito, impetuoso, perseguindo uma ninfa assustada que deixa cair as flores que carrega na boca, misturando-se com seu vestido, as 3 graças, que acompanham Vênus e dançam do lado esquerdo e Mercúrio, o guardião do jardim.
Considerando as duas pinturas juntas, obtemos o ideal do amor de acordo com o formulado pelo filósofo neo-platônico Marsilio Ficino, muito presente na corte dos Medici. Ele consideraca o amor como uma dicotomia entre o desejo físico-terreno e outro espiritual orientado para Deus, que via como a contraposição entre a sensualidade e a intelectualidade, matéria e espírito.
Zéfiro encarna a paixão indômita cuja antítese é representada pela Graça do meio que, sem qualquer ornamento, está de costas para o espectador, parecendo ser o alvo das flechas do Cupido. Sem prestar atenção a dança de suas amigas e aos acontecimentos em torno de Zéfiro, ela olha absorta para Mercúrio que com sua pose e olhar direcionado para cima à esquerda, aponta para fora da pintura.
A direção deste movimento não apontava para o vazio, mas fazia a conexão com "Camila e o Centauro". A transformação da Graça do centro encontra seu ponto alto em Camila. Enquanto Zéfiro dá liberdade a sua paixão carnal e à sua luxúria, estas são dominadas por Camila no Centauro. Mercúrio serve como ponto de ligação entre as duas figuras femininas, o que também corresponde à sua função de mensageiro dos deuses.
*Fonte: "A Arte da Renascença Italiana" - Rolf Toman, texto sobre A Pintura do Primeiro Renascimento em Florença e no Centro da Itália de Barbara Deimling.
**A imagem que ilustra o post é um detalhe de "A Primavera", no qual aparece Zéfiro perseguindo a ninfa Cloris.