Ponte Vecchio - linda e cheia de curiosidades
Quando criança, meu primeiro símbolo da Itália não foi nem o Coliseu, nem a Torre de Pisa, foi a Ponte Vecchio. Um dos grandes emblemas de Florença, a construção que atravessa o rio Arno e remonta à época do Império Romano, me intrigava pelo forte impacto que exercia sobre meu pai.
A cada vez que a imagem aparecia na televisão, livro, ou revista, era uma gritaria em casa e de canto de olho, eu percebia a cara emocionada de um "gran signore", que embora seja filho de pai senese, tem uma paixão incomparável pela linda cidade de Dante.
Agora, não posso ir até lá sem passar em frente ao apartamento onde ele morou, durante cinco anos, enquanto cursava a universidade arquitetura, na Via dei Barbadori, bem pertinho da ponte.
Bom, vamos aos finalmente, toda essa "lenga-lenga" é para dizer que conto um pouco sobre esta singular ponte, mas a partir de um ponto de vista "emocional" e não "monumental"! Resumindo, me "aproprio" muito indevidamente de um dos grandes cartões-postais florentinos e conto algumas curiosidades sobre o local.
Antes construída em madeira, apenas em 1170 foi refeita em pedra, enquanto o formato que tem atualmente remonta a 1345. Em 1442 tornou-se concentração dos açougueiros da cidade por ordem das autoridades locais que queriam manter um pouco mais limpas as áreas mais centrais e próximas aos grandes palácios. Dessa forma - nada higiênica - e nesses momentos penso mesmo que não gostaria de ter vivido nesta época, gorduras, nervos e pedaços de carnes podres podiam ser descartados diretamente no rio.
A coisa toda permaneceu assim até que em 1565, o grande Giorgio Vasari construiu o "Corridoio Vasariano" - via de ligação entre Palazzo Vecchio (centro político e administrativo) e o Palazzo Pitti (residência da família), passando sobre a ponte, destinada aos Medici. Em 1593, Ferdinando I, nada satisfeito com os odores provenientes do andar de baixo de seu corredor suspenso - os membros anteriores da família deveriam ter sérios problemas olfativos - ordenou que o comércio pouco nobre fosse substituído por joalheiros e ourives, até hoje existentes no local.
A Ponte Vecchio foi a única das florentinas a escapar da fúria nazista durante a 2º Guerra Mundial. Os gentis alemães contentaram-se em destruir "apenas" os pontos de acesso a ponte, como a Borgo San Jacopo, via Guicciardini e via Por Santa Maria. Tenho certeza de que os turistas e demais apaixonados pela cidade agradecem!
No centro da construção existem dois terraços panorâmicos, um deles hospeda um busto de Benvenuto Cellini. As grades do monumento viraram suporte para cadeados. Explico: os casais apaixonados resolveram imitar a arte, no caso o livro "Tre metri sopra il cielo" (Três metros sobre o céu, em português), do escritor italiano Federico Moccia, e selar seu amor com cadeados com seus nomes gravados.
Os personagens centrais, os adolescentes Babi e Step deram o exemplo, prontamente copiado por uma horda tão grande de casaisinhos que a administração pública viu-se obrigada a estabelecer uma multa de 50 euros para aqueles que fossem surpreendidos prendendo seus cadeados.
Agora, quase em toda a Itália pode-se encontrar cadeados e mais cadeados, presos em tudo quando é ponte, poste, grade e afins. O tal ato de "romantismo" que teve origem na Ponte Milvio, em Roma, onde Step e Babi selaram o seu amor, o lampião, depois de ter sido alvo de roubo - os cadeados foram depois reencontrados - caiu dentro do Tevere por excesso de peso.
Um grupo de criativos romanos inventou um site como alternativa para os enamorados que agora podem instalar seus cadeados virtuais sem receber multas e sem danificar o patrimônio público.